Já ouviu dizer que às vezes o documentário se confunde com a ficção?
Entre outras coisas, o que mais me tornou adepto e amante do filme do real é o fato que, pelo incrível que pareça, o chamado "documentário" não precisa necessariamente utilizar recursos ficcionais para que o real se misture com a ficção (isso apesar de que, afinal, a história do cinema parece remeter ao nascimento quase paralelo destas duas "opções cinematográficas", aquela do real e a ficcional). Ou seja, não há necessidade de doc-ficções para aproximar o cinema do real do cinema ficcional e muitas vezes, são filmes meramente documentários que alcançam aquela sutil linha de demarcação (será que existe?) que existe entre realidade e ficção, sem o auxílio de representações ficcionais. Entre os inúmeros exemplos, o que logo emerge em minha memória é o filme "STONE SILENCE", de Krzysztof Kopczynski, que pode ser assistido (embora o termo melhor seria admirado), no link:
http://www.cultureunplugged.com/play/4221/Stone-Silence
Há situações reais, aliás, que estão bem além do ficcional e, como bem dizia meu professor de roteiro, Gaetano Sansone, há situações reais que quando adaptadas à ficção, devem ser de certa forma "diluídas", porque se não aparentam ser falsas!
Já pensou viver por cima de uma pedra que mede vários kilómetros de cumprimento? Casas, escolas, lojas, enfim, uma cidade construída sobre um enorme lajedo. Tudo bem, não é isso o que rende única a situação da cidade, nem mesmo considerando se tratar da pedra aflorada maior do mundo, segundo pesquisas recentes.
Agora, imagine morar num tal canto, de fato uma pequena cidade, amena e potencialmente "cinematográfica", pelas suas características geográficas...e descobrir que, ao longo dos anos, houve digamos, certo interesse no subsolo por parte de diversos forasteiros, inclusive norte-americanos, se revisando no local por várias décadas, e ainda, geólogos brasileiros representando agências nucleares...para quem ficar curioso aconselho ler o artigo no link abaixo, que reforçou a dica de um colega para eu realizar um documentário naquela pequena cidade:
http://agloborondonia.blogspot.com/2009/10/governo-brasileiro-estaria-pesquisaer.html
http://agloborondonia.blogspot.com/2009/10/governo-brasileiro-estaria-pesquisaer.html
A razão do interesse acima descrito é a presença, aliás, uma boa presença, de minério de urânio no subsolo da cidade, que sempre segundo o artigo acima, apesar de não ser o único município da Paraíba a esconder abaixo do solo, a presença deste minério, apresenta aqui mais uma característica marcante: um índice de câncer muito alto. As duas coisas (urânio e câncer) podem não estar ligadas e para comprovar alguma conexão de causa, tornar-se-ia necessária uma pesquisa multidisciplinar, mas conforme depoimentos de vários moradores, inclusive o filho de um ex-prefeito, o povo da cidade onde o filme foi gravado, ainda aguarda o resultado das diversas investigações científicas efetuadas ao longo dos anos.
Longe de ter qualquer finalidade sensacionalista, este documentário, cuja produção está próxima de ser finalizada, retrata a situação dos moradores do município paraibano chamado de Pocinhos.
Ciente e contente (principalmente em termos de responsabilidades...) do fato de que o ofício de fazer documentários, há muito tempo deixou de ser tido como meio neutral e objetivo para alcançar verdades absolutas, minha intenção é apenas aquela de mostrar um recorte inerente à situação vivenciada por alguns moradores, compartilhando com eles meu meio de produção , para que possam expressar por eles mesmos, tanto os fatos, assim como as emoções e as diferentes reações perante os mesmos.
Qualquer apoio, patrocínio, enfim, qualquer ajuda (colaboração na edição e pós-produção) seria MUITO bemvinda. Contato: tanofb@gmail.com
Logo postarei um teaser...
Breve biofilmografia de Riccardo:
Natural de Milão, mora no Brasil há mais de seis anos. Realizador audiovisual independente, desde março de 2010 é parecerista credenciado pelo MinC, prestando serviço pela Secretaria do Audiovisual. Dirigiu diversos documentários e curtas de ficção e participou de festivais nacionais e internacionais de cinema, assim como, entre outros: É Tudo Verdade (2011), Cineport – Festival Internacional de Cinema dos Países de língua portuguesa (2007), In-edit Brasil (2011), Rassegna Brasil Cinema Contemporaneo (Milão, 2011), Zanzibar International Film Festival (2007), Mostra Internacional do filme etnográfico (2009), CineDocumenta (2010, 2011), Prêmio Roberto Rossellini (2004). Em Milão estudou Artes (Diploma de II grau, em 1996, pelo Liceo Artístico I) e Cinema (Scuola del Cinema, TV e Nuovi Media – Fondazione Scuole Civiche di Milano), e ainda estagiou e trabalhou em produtoras como a Mercurio Cinematografica. Participou de oficinas de cinema com profissionais de nível internacional (Gianfilippo Pedote, Gianni Squitieri, Bruno d’Annunzio, Renzo Rossellini, Mohammed Kalari, Yesim Ustaoglu, Marcélia Cartaxo, entre outros); E ministrou quatro oficinas de introdução: à fotografia, ao cinema e ao filme documentário (UFCG, 2008-2009). Também é graduando (pré-concluinte) em C. Sociais (UFCG), com pesquisa na área de Antropologia fílmica. Maiores informações: www.onelovefilmes.blogspot.com, www.myspace.com/rickydemilao